Informação de qualidade: A chave para uma experiência segura e significativa.
Navegue pela página e conheça a sagrada medicina da floresta, Ayahuasca.
Vídeo:
A ayahuasca é mais do que uma bebida: é uma medicina ancestral que atravessou séculos e culturas, trazendo cura, autoconhecimento e expansão de consciência. Este dossiê foi criado para que você tenha, em um só lugar, todas as informações necessárias para compreender e se preparar de forma segura e consciente para a consagração."
Ayahuasca é uma bebida consumida em rituais espirituais e de cura de diversos povos originários amazônicos.
Feita a partir da decocção de um cipó e das folhas de um arbusto da família do café, provoca alterações de consciência que podem incluir visões e introspecção profunda, sendo considerada uma ferramenta sagrada de autoconhecimento e conexão espiritual.
A palavra “ayahuasca” vem do quéchua. Este é o idioma ancestral da civilização Inca, que ainda é falado por diversos povos andinos do Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e outros países da América do Sul.
Nessa língua, “aya” significa espírito ou alma, e “huasca” (ou “waskha”) quer dizer cipó ou chá. Por isso, o nome é tradicionalmente traduzido como “cipó das almas” ou “cipó dos espíritos”, “chá dos antepassados”, expressão que reflete o caráter sagrado atribuído à bebida.¹
Localização da antiga civilização inca na América do Sul.
Região amazônica da América do Sul
A medicina é consumida por diversos povos da região amazônica, e possui diversos nomes.
Alguns deles:
Nixi Pae - Huni Kuin (Kaxinawá)
Yagé - Koreguaje, Achagua e Inga.
Uni - Yawanawá
Kamarampi - Ashaninka
Caapi - Tukano, outras etnias
Conheça a origem do Nixi Pae (Ayahuasca), de acordo com a narrativa dos povos Huni Kuin:
No início do século XX, durante o ciclo da borracha na Amazônia, a ayahuasca começou a ultrapassar os limites das aldeias indígenas e passou a ser utilizada também nos vilarejos, onde trabalhavam os seringueiros. Nesse contexto de encontros e trocas culturais, surgiram novos movimentos religiosos sincréticos.
Em 1930, Raimundo Irineu Serra, o Mestre Irineu, deu origem ao Santo Daime. Anos depois, em 1945, Daniel Pereira Mattos, o Frei Daniel, fundou a Barquinha. Já em 1960, foi a vez de José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel, criar a União do Vegetal. Essas tradições, conhecidas como religiões neo-ayahuasqueiras, incorporam elementos do cristianismo, das matrizes afro-brasileiras e da espiritualidade indígena, formando rituais próprios e têm em comum o consumo da ayahuasca.² ³ ⁴
Com o passar do tempo, a medicina despertou interesse nos centros urbanos. A partir daí, floresceram novas tradições xamânicas e espaços holísticos, que unem saberes de diferentes culturas, mas mantêm a bebida como um caminho de autoconhecimento.
Acima, o Santo Daime e Mestre Irineu, a União do Vegetal e Mestre Gabriel, a Barquinha e Frei Daniel e novos movimentos xamânicos.
Nas últimas décadas, a ciência tem percebido o potencial da ayahuasca.
Mais a frente, nesta página, falaremos sobre os diversos estudos e as diversas potencialidades da medicina, mas como introdução, assista o vídeo a seguir. Nele, o neurocientista dr. Dráulio Araújo mostra como a bebida é um ponto de encontro entre espiritualidade e conhecimento científico, e como isso pode ser benéfico na promoção de saúde mental.
Esta é uma pergunta importantíssima e nós já escrevemos sobre isso no blog. Clique no botão a seguir para ler a resposta.
A ayahuasca é tradicionalmente preparada a partir de dois vegetais da floresta amazônica, cuidadosamente colhidos e cozidos por horas em um processo ritualístico.
Nessa união, as plantas são complementares e cada uma delas tem sua função própria na composição da bebida.
Os Principais Vegetais
Chacrona (Psychotria viridis)
Um arbusto de folhas verdes da família do café. Também conhecido como "rainha da floresta", suas folhas contêm DMT (dimetiltriptamina) (conhecida como a molécula do espírito), que é a substância responsável por desencadear os estados alterados de consciência e percepções expandidas. A DMT interage no cérebro com os receptores de serotonina, responsáveis pela visão, percepção, humor e consciência. ⁹
Dimetiltriptamina (DMT)
Jagube ou Mariri (Banisteriopsis caapi)
Conhecido como a “cipó das almas”, é uma trepadeira da Amazônia. O preparo do mariri envolve sua colheita cuidadosa, e depois a sua limpeza e maceração, em um processo conhecido como bateção e as fibras resultantes da bateção são cozidas. A primeira colheita do Mariri pode ser feita até 5 anos após o plantio, porém, cipós com 10 ou 15 anos são vistos como mais fortes e carregados de sabedoria.
Ritual de "bateção do Mariri", realizado pelos irmãos da Igreja do Santo Daime
Se a folha contém as moléculas psicoativas, qual a função do cipó de Mariri?
Essa é uma das partes mais surpreendentes da medicina.
A Chacrona contém o DMT. Porém, quando ingerido por via oral, o DMT não chega ao cérebro, porque no nosso sistema digestivo existe uma enzima chamada monoamina oxidase (MAO), presente principalmente no fígado e no intestino. Essa enzima rapidamente quebra o DMT antes que ele possa ser absorvido.
O Mariri contém alcaloides beta-carbolínicos, que são inibidores da monoamina oxidase (IMAO). Eles funcionam como uma “chave”, bloqueando temporariamente a ação da MAO no trato digestivo.
Em outras palavras, ayahuasca apenas funciona com a união destas plantas na medida e proporções apropriadas de folha e cipó. ¹⁰
Representação simplificada de como os IMAOS do cipó protegem o DMT de ser degradado pelo sistema digestivo.
A ayahuasca é uma verdadeira joia!
A combinação entre Mariri e Chacrona jamais aconteceria por mero acaso. Trata-se de uma tecnologia sofisticada dos povos originários, fruto de séculos de observação, sensibilidade e transmissão de saberes.
Valorizar essa medicina é reconhecer a profundidade de uma sabedoria que une natureza e humanidade em um encontro raro e precioso.
A primeira coisa que precisa ficar clara é:
Cada organismo é um organismo, portanto:
OS EFEITOS NÃO SÃO IGUAIS PARA TODOS
Cada pessoa vive a experiência de um jeito único. A mesma dose pode agir de formas diferentes em pessoas diferentes — e até na mesma pessoa em momentos distintos. Por isso, os efeitos aqui descritos são apenas uma referência. Você pode sentir alguns deles, todos em intensidades variadas ou até nenhum.
Em termos gerais, os efeitos:
Começam cerca de 30 min a 1h após a ingestão
Duram de 2 a 6 horas, podendo durar mais em alguns casos.
Nível Físico
Modula o sistema imunológico. ¹¹
Liberação de certos hormônios. ¹¹
Leve aumento da pressão arterial. ¹²
Dilatação da pupila.
Distorções na visão.
Tontura e desorientação
Calafrios
Pode causar vômito ou diarreia, o que é comumente
interpretado como uma limpeza espiritual e energética.
Nível Psicológico
Percepção de alteração no tempo e espaço.
Aumento da introspecção e capacidade de autoanálise.
É comum o aparecimento de memórias vívidas e imagens do passado.
Considerada um espelho do próprio interior. Pode-se ver conflitos internos, medos e emoções difíceis mas também a beleza da vida.
Insights profundos sobre si mesmo, relações e escolhas de vida.
Experiências psicológicas intensas, com possibilidade de catarse emocional. ¹⁰
Nível Espiritual / Transpessoal
Pode incluir a percepção de acessos a realidades transcendentais, que fogem à experiência comum, atribuídos a dimensões mitológicas, religiosas ou espirituais.
Sensação de conexão com algo maior (natureza, cosmos, espiritualidade).
Experiências de transcendência, unidade ou
dissolução do ego. ¹²
Sentido renovado de propósito ou pertencimento.
A combinação desses efeitos pode levar a pessoa a ter mudanças na sua concepção de si mesma e da realidade. A médio e longo prazo esses sentimentos podem provocar mudanças muito profundas na vida dos indivíduos que consagram. Antes de consagrar, esteja disposto a encarar que mudanças profundas poderão acontecer.
Riscos e Medidas de Segurança
Embora a ayahuasca seja reconhecida como uma medicina bastante segura, seu consumo não é isento de riscos.
A sabedoria dos ayahuasqueiros mais antigos diz:
"Ayahuasca é para todos, mas nem todos são para ayahuasca"
Por isso é necessário tomar certas precauções antes e depois de consumir a medicina.
🚫 Não deve consagrar:
Pessoas com histórico psicótico ou diagnosticadas com esquizofrenia.
Há a possibilidade da experiência ser gatilho para crises. ¹⁴
Quem fez uso recente de antidepressivos, ansiolíticos ou antipsicóticos.
Existe o risco de uma crise serotoninérgica. ¹⁵
Quem está passando por um período de grave instabilidade emocional, como crises de pânico, depressivas, bipolares, etc.
Antes de consagrar, procure profissionais de saúde e esteja emocionalmente equilibrado.
Gestantes e lactantes que nunca consagraram ayahuasca.
Apenas deve utilizar ayahuasca gestantes experientes, que conhecem os efeitos da medicina no organismo. ¹⁶
Além das contraindicações ligadas à saúde, existem também outras situações que, mesmo não sendo médicas, são impedimentos para consagrar a medicina. Portanto, não tome ayahuasca se:
Busca apenas curtição.
Usá-la sem respeito, preparo e intenção pode gerar experiências confusas, desorganizadoras e até traumáticas.
Sente-se pressionado por alguém ou por si mesmo a tomar do chá.
Às vezes, você pode sentir-se pressionado por diversas situações. Por exemplo, caso você já tiver feito a contribuição pela cerimônia, mas não está mais com vontade de consagrar.
Ainda não tem certeza sobre o que é ayahuasca, os seus efeitos e contraindicações.
É essencial estar preparado para a experiência. Buscar informação é o primeiro passo para que a vivência aconteça com mais segurança e tranquilidade.
Não sente-se plenamente seguro no ambiente ou não confia no facilitador.
No caminho com as medicinas não existem verdades absolutas. Se um guia ou facilitador tentar impor confiança cega ou exigir que você acredite nele sem questionar, esse já é um sinal de alerta. O respeito, a liberdade e o discernimento devem sempre fazer parte da sua jornada.
Se você simplesmente não quiser consagrar ayahuasca.
A principal contraindicação para o uso é não querer. Quando há abertura, mesmo diante de experiências desafiadoras, é possível extrair aprendizados valiosos e ressignificar o que surgir. Porém, sem essa disposição interna, tais vivências podem ser potencialmente traumáticas.
⚠️ Atenção aos seguintes pontos:
Em doses mais elevadas, ayahuasca pode causar tonturas e até desmaios, o que pode gerar quedas e hematomas.
Procure sentar-se em uma cadeira segura ou em um colchonete para evitar quedas. ¹²
Pessoas com problemas cardíacos
Ayahuasca pode alterar a pressão arterial e ritmo cardíaco. É importante acompanhamento médico antes de consagrar. ¹²
De acordo com tradições amazônicas, ao tomar ayahuasca os participantes abrem o seu “campo espiritual”. Em termos psicanalíticos, rebaixam suas “defesas psíquicas”.
Em outras palavras, ficam vulneráveis a influências externas. Dessa forma, é essencial tomar cuidado com o pós cerimônia. O que vai ver no celular, na TV, as pessoas com quem interagirá e os ambientes que frequentará.
Cuidado com interpretações perigosas da experiencia vivida.
Por exemplo, as pessoas podem sentir que a ayahuasca “lhes disse” para deixarem o seu trabalho ou o seu parceiro, que sofreram abusos, ou que são ou deveriam ser xamãs. Por vezes, estas mensagens não são verdades literais, mas expressões da dimensão inconsciente da pessoa.
A ayahuasca, além de seu uso ancestral e espiritual, também tem despertado crescente interesse da comunidade científica. Nos últimos anos, universidades e centros de pesquisa ao redor do mundo têm investigado seus efeitos no corpo e na mente, buscando compreender seus potenciais benefícios terapêuticos. Os resultados têm sido tão promissores, que muitos pesquisadores chamam o período em que estamos vivendo de "renascimento psicodélico".
Instituto do Cérebro (ICe), UFRN
O Instituto do Cérebro da UFRN (ICe-UFRN), em Natal (RN), é referência em neurociência na América Latina. Destacou-se internacionalmente ao realizar alguns dos primeiros ensaios clínicos com ayahuasca, mostrando efeitos promissores no tratamento da depressão resistente, além de estudos de neuroimagem e plasticidade neuronal, que aproximam o saber ancestral da ayahuasca ao olhar científico moderno.
Um estudo investigou como a ayahuasca afeta uma rede cerebral ligada a pensamentos automáticos e introspecção, chamada Default Mode Network (DMN). Utilizando ressonância magnética, os pesquisadores observaram que, sob o efeito do chá, houve redução da atividade em regiões centrais e aumento em áreas específicas, indicando mudanças no fluxo mental e no estado de consciência. ¹⁷
Essas mudanças sugerem que a ayahuasca diminui o fluxo de pensamentos repetitivos e o “piloto automático da mente”, ao mesmo tempo em que aprofunda estados de introspecção. Além disso, a conectividade entre certas áreas da DMN também se alterou, indicando um estado diferenciado de consciência. Os autores destacam que essas descobertas podem ajudar a compreender o potencial terapêutico da ayahuasca em condições nas quais a DMN costuma funcionar de forma desregulada.
Outro estudo fez história ao mostrar, pela primeira vez, que a ayahuasca pode agir como um antidepressivo rápido e eficaz em pessoas com depressão resistente a tratamentos convencionais. Em apenas uma única dose, pacientes que conviviam há anos com a doença apresentaram melhora significativa já no primeiro dia, e os efeitos positivos continuaram crescendo até o sétimo dia. ¹⁸
Os resultados indicam que, quando usada em ambiente seguro e supervisionado, a ayahuasca pode abrir novas portas para tratar um dos maiores desafios da saúde mental moderna: a depressão que não responde aos remédios tradicionais. Além do rápido alívio dos sintomas, muitos participantes relataram experiências profundas e transformadoras durante a sessão, sugerindo que o chá atua não só no cérebro, mas também no modo como a pessoa percebe a si mesma e a vida.
Quanto maior a esfera, mais conexões cerebrais.
Outro estudo mostrou que após a ingestão do chá, o cérebro apresenta maior entropia, ou seja, mais diversidade e liberdade em suas conexões. Isso significa que as redes cerebrais ficam menos rígidas e mais flexíveis, permitindo novas formas de pensamento e percepção. Dessa forma, sob efeito da medicina, cérebro sofreu uma reorganização, e essa reorganização está em sintonia com relatos comuns de usuários, que descrevem a experiência como uma expansão da mente. Em resumo, o estudo oferece evidências científicas de que a ayahuasca realmente abre espaço para que o cérebro explore estados de consciência mais amplos e criativos. ¹⁹
Após a Ayahuasca, há maior comunicação entre as áreas cerebrais.
Outro estudo revelou por que muitas pessoas descrevem a ayahuasca como uma experiência de “visões” mesmo de olhos fechados. Pesquisadores descobriram que o chá ativa áreas do cérebro ligadas à visão, à memória e à imaginação de forma tão intensa que as imagens internas ganham a mesma força que enxergar algo real. Em outras palavras, a ayahuasca faz com que o cérebro transforme memórias e imaginações em experiências vívidas, cheias de cores e detalhes, o que explica a sensação de “ver com os olhos da mente”. ²⁰
As manchas coloridas são as partes do cérebro responsáveis pelo processamento de imagem que ficam mais ativas ao tomar ayahuasca. Isso indica que as figuras mentais podem se tornar intensas e reais, o que explica as visões vívidas relatadas durante o efeito da medicina.
Ainda outro estudo descobriu que sob efeito da ayahuasca, o cérebro apresenta maior “paridade de informação”, ou seja, diferentes regiões passam a compartilhar influências semelhantes dentro da rede neural. ²¹
Na prática, isso significa que áreas como o córtex frontal (ligado à atenção e ao controle das emoções) e o sistema límbico (relacionado a memória e sentimentos) começam a “falar a mesma língua”. Isso sugere que o cérebro fica menos preso a padrões rígidos antigos e há mais equilíbrio entre razão e emoção, o que ajuda a explicar por que tantas pessoas relatam clareza, insights e sentimentos de conexão durante a experiência com a ayahuasca.
Na figura, cada ponto representa uma região cerebral, e cada linha, as informações compartilhadas entre elas. Após o consumo de ayahuasca há mais linhas e elas são mais espessas.
Potencial Terapêutico
Pesquisas de vários países mostram que psicodélicos podem oferecer tratamentos inovadores para transtornos resistentes às terapias tradicionais.
Veja alguns transtornos que demonstraram resultados promissores.
Depressão resistente
Estudos realizados no Brasil e no exterior mostram que, após apenas uma ou poucas sessões, muitos pacientes relataram uma redução significativa dos sintomas, acompanhado de maior clareza emocional e sensação de propósito. Diferente dos remédios de uso contínuo, a ayahuasca atua de forma rápida e profunda, estimulando novas conexões no cérebro e oferecendo não apenas alívio, mas também novas perspectivas de vida.¹⁸
Ansiedade Crônica
Durante a experiência, há uma diminuição da hiperatividade cerebral ligada ao medo e à preocupação excessiva, permitindo que a pessoa entre em contato com um estado de maior calma e aceitação. Muitos relatam que a ayahuasca favorece uma mudança no modo de perceber os próprios pensamentos e emoções, ajudando a romper ciclos de tensão e preocupação constante. Esses efeitos podem trazer um alívio duradouro e transformador para quem convive com a ansiedade. ²²
Transtorno do Estresse Pós Traumático (TEPT)
A ayahuasca tem se mostrado uma ferramenta poderosa para acessar e ressignificar memórias dolorosas. Diferente de terapias convencionais, que muitas vezes exigem anos de tratamento, a experiência com a ayahuasca pode permitir que o trauma seja revisto sob uma nova perspectiva, com menos medo e mais compaixão. Estudos sugerem que esse processo reduz a reatividade emocional diante das lembranças traumáticas e fortalece a capacidade de elaborar o ocorrido. Assim, a bebida não apenas alivia sintomas como pesadelos, flashbacks e ansiedade, mas também promove uma sensação de cura profunda e reconexão consigo mesmo. ²³
Dependência Química
Pesquisas indicam que ayahuasca pode ajudar a reduzir o desejo compulsivo pelo uso de substâncias e a melhorar o autocontrole, além de favorecer a reflexão sobre escolhas de vida e relacionamentos. Muitas pessoas relatam que, durante a experiência, conseguem enxergar com clareza os danos causados pela dependência e despertar um forte impulso de mudança. Associada a contextos terapêuticos ou rituais, a ayahuasca tem mostrado potencial para promover não apenas a redução do consumo, mas também uma transformação no sentido de propósito e reconexão com a própria vida. ¹⁰
Dores Crônicas
Pesquisas e relatos indicam que a experiência pode modular a percepção da dor, reduzir a intensidade e a frequência das crises e proporcionar um estado de relaxamento profundo. Além disso, a experiência pode ajudar a lidar com o sofrimento associado à dor de forma mais consciente e integrada, promovendo melhora na qualidade de vida e maior sensação de bem-estar geral. ²⁴
Transtornos Alimentares e Distúrbios de Imagem
A ayahuasca também tem sido estudada no contexto da dor crônica, incluindo enxaquecas e cefaleias, oferecendo alívio tanto físico quanto emocional. Pesquisas e relatos indicam que a experiência pode modular a percepção da dor, reduzir a intensidade e a frequência das crises e proporcionar um estado de relaxamento profundo. Além disso, a experiência pode ajudar a lidar com o sofrimento associado à dor de forma mais consciente e integrada, promovendo melhora na qualidade de vida e maior bem-estar geral. ²⁵ ²⁶
Alzheimer e Demencias
Os alcaloides presentes na bebida, especialmente os inibidores da MAO do mariri, parecem estimular a neuroplasticidade e a regeneração neuronal, processos fundamentais para a manutenção da memória e das funções cognitivas. Além disso, relatos apontam que a experiência pode reduzir ansiedade, depressão e desorientação emocional frequentemente associadas à doença, oferecendo não apenas possível suporte cognitivo, mas também melhora no bem-estar emocional e na qualidade de vida dos pacientes. ²⁷
Cuidados Paliativos
Estudos preliminares e relatos de pacientes indicam que a experiência pode aliviar o medo da morte, reduzir angústia e promover uma sensação de paz e aceitação diante do fim da vida. Durante a experiência, muitos relatam uma conexão profunda consigo mesmos, com os outros e com dimensões espirituais, o que contribui para uma maior serenidade emocional e dignidade nos últimos momentos. Esse efeito pode complementar o cuidado paliativo, oferecendo não apenas conforto físico, mas também acolhimento psicológico e existencial, tão difícil para a terapia convencional. ²⁸
Além desses transtornos, a ayahuasca vem sendo estudada para diversas outras condições, com resultados cada vez mais promissores. De fato, estamos vivendo uma revolução psicodélica!
Psicoterapia Assistida por Psicodélicos
A experiência não termina no momento da consagração. Para que os aprendizados não fiquem apenas no campo espiritual e subjetivo, mas sejam trabalhados de forma concreta na vida cotidiana, é importante preparação e integração.
Nesse contexto, a Psicoterapia Assistida por Psicodélicos (PAP) é uma técnica inovadora e segura que pode auxiliar na elaboração de vivências e transformar insights em cura.
A PAP atua como um guia no processo, pois quando há preparação adequada, a pessoa chega à experiência mais consciente e segura, o que já diminui riscos de vivências confusas ou traumáticas. Após a consagração, o espaço de integração permite organizar os insights, dar sentido ao que foi vivido. Assim, os benefícios se ampliam, enquanto os riscos são reduzidos pelo acompanhamento próximo e responsável.
O Protocolo da PAP é dividido em 3 etapas principais: Preparação, a experiência e a integração. ²⁹
Na PAP, o papel do facilitador é fundamental! Ele oferece um espaço seguro e acolhedor, sustentando a experiência sem dirigi-la, mas garantindo que a pessoa possa atravessar o processo com confiança.
Esse cuidado dialoga diretamente com a sabedoria ancestral. Um dos elementos comuns a muitas culturas guardiãs do ayahuasca é a figura do guia, pajé ou xamã. Eles conduzem as cerimônias, garantindo a segurança de todos, enquanto guiam o processo por meio de musicas, ícaros e rezos.
Hoje, a psicologia reconhece e se inspira nesse saber originário, integrando-o às práticas contemporâneas para unir ciência e tradição no apoio ao autoconhecimento e à cura.
“As medicinas das populações originárias foram combatidas por muitas décadas e hoje entram pela porta da frente da medicina, vêm transformando a psiquiatria, e dizendo que existe uma alternativa a esse uso cotidiano de antidepressivos.”
— Sidarta Ribeiro, neurocientista e um dos fundadores do
Instituto do Cérebro
No Brasil, a ayahuasca tem uma situação legal única. Desde 1987, seu uso está regulamentado pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), que reconheceu o consumo ritualístico da bebida dentro de contextos religiosos como legítimo e protegido por lei. Assim, ela não é considerada droga ilícita, mas sim uma planta de uso sacramental.
A resolução nº 1 do CONAD, de Janeiro de 2010 manteve o entendimento da resolução de 1987 e acrescentou pontos, que estão resumidos a seguir. ¹⁶
O CONAD reafirma a legitimidade do uso religioso da ayahuasca, já reconhecida desde os anos 1980, como prática cultural, histórica e espiritual.
Está protegido pela liberdade de consciência e de crença (CF, art. 5º, VI) e pela proteção às manifestações culturais, indígenas e afro-brasileiras (CF, art. 215).
O uso religioso não pode ser restringido nem proibido pelo Estado.
Restrito a rituais religiosos em entidades reconhecidas.
Vedado:
Comércio ou obtenção de lucro com a bebida;
Exploração turística;
Publicidade sensacionalista ou promessa de “curas milagrosas”;
Associação da ayahuasca a substâncias proscritas pela legislação;
Uso fora do contexto ritual.
Todo o processo (plantio, preparo, armazenamento, consumo) é parte do ritual religioso.
Recomenda-se que as entidades busquem autossustentabilidade, cultivando suas próprias plantas.
A coleta na floresta deve respeitar normas ambientais.
Custos podem ser divididos entre os membros, mas não se caracteriza como comercialização.
Estímulo à formalização jurídica das entidades, reforçando responsabilidade e segurança dos rituais.
Uso responsável requer pessoas experientes no preparo, condução e orientação espiritual.
Recomenda-se entrevista prévia e acompanhamento de novos adeptos.
Menores de 18 anos: decisão cabe aos pais ou responsáveis.
Gestantes: decisão pessoal, assumindo responsabilidade.
Dentro de rituais religiosos, o uso com fins de cura é considerado ato de fé, não “terapia” no sentido científico.
Qualquer uso terapêutico fora do contexto religioso depende de pesquisas científicas e de profissionais habilitados.
Até que tais pesquisas comprovem eficácia, o uso terapêutico formal não é reconhecido pelo CONAD.
O interesse pelas medicinas ancestrais, como a ayahuasca, cresce a cada dia, oferecendo caminhos de cura e autoconhecimento. Mas há um dilema ético: enquanto buscamos esses benefícios, os povos originários que preservam esses saberes enfrentam pobreza, invasões e ataques à sua cultura. Refletir sobre esse tema é essencial para usar essas medicinas com respeito e responsabilidade, ouvindo e apoiando quem as guarda há séculos.
CONFERÊNCIA INDÍGENA DA AYAHUASCA
Muito além de um “chá”, ayahuasca é parte viva de cosmologias, tradições e práticas que sustentam a saúde espiritual e coletiva das comunidades indígenas há milênios. Nos últimos anos, porém, a bebida ultrapassou as fronteiras da floresta e passou a circular em diferentes contextos: igrejas urbanas, pesquisas científicas, turismo espiritual e até comércio internacional. Essa difusão trouxe novos olhares, mas também profundas tensões: quem tem o direito de usar a ayahuasca? Em quais condições? Com que responsabilidades?
Na 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca (Acre, 2025), lideranças indígenas reafirmaram um ponto central: a ayahuasca não pode ser separada de seus guardiões originários. Foi destacada a necessidade de protagonismo indígena, respeito às tradições e rejeição à lógica de mercado que transforma um patrimônio espiritual em mercadoria.
Clique na imagem para acessar o site da Conferência Indígena da Ayahuasca
As denúncias não são novas, mas ganham força com os vários registros recentes de patentes registradas sem consulta, pesquisas acadêmicas feitas sem consentimento, turismo que explora sem devolver às comunidades e usos descontextualizados que ignoram o caráter sagrado da bebida. Para os povos originários, isso não é apenas apropriação cultural, mas também uma ameaça às bases espirituais e coletivas de suas culturas.
Assim, o debate sobre a ayahuasca vai muito além de questões legais ou científicas: ele toca no direito à autonomia dos povos indígenas, na preservação de saberes ancestrais e na ética das relações entre culturas. Mais do que nunca, ouvir e reconhecer as vozes que guardam esse conhecimento é essencial para qualquer caminho que envolva a ayahuasca fora da floresta.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Existe um dilema ético profundo na urbanização recente das medicinas: enquanto nós, nas cidades, temos acesso a esses saberes e benefícios, muitos dos povos originários que há séculos guardam essas medicinas enfrentam realidades de escassez e violência.
São povos que, ao mesmo tempo em que preservam conhecimentos vitais para a humanidade, sofrem ataques constantes: invasões de terras, garimpo ilegal, desmatamento, poluição dos rios, assassinatos de lideranças, além da precariedade no acesso à saúde, educação e recursos básicos para uma vida digna. É uma contradição dolorosa: buscamos cura em tradições que muitas vezes sobrevivem sob ameaça.
Por isso, é nossa responsabilidade ética, enquanto consumidores e aprendizes dessas medicinas, estarmos de ouvidos atentos às demandas dos povos indígenas. Honrar a ayahuasca e outras plantas de poder significa também apoiar os seus guardiões, garantindo que tenham condições de seguir transmitindo seus saberes de forma livre e segura.
Quais são as demandas dos povos originários? Quais políticas e políticos os ameaçam? O que buscam? Tomar ayahuasca, em si, é um ato político e demanda responsabilidade política também.
Uma forma concreta de fazer isso é se informar e apoiar iniciativas como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que articula e dá voz às lutas dos povos originários em defesa de seus direitos, territórios e culturas.
Clique na imagem para acessar o site da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Sentiu o chamado? Clique no botão para participar de uma cerimônia.
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BIOGRAFIA - Mestre Raimundo Irineu Serra. Santo Daime - A Doutrina da Floresta. Disponível em: https://www.santodaime.org/site/religiao-da-floresta/mestre-irineu/biografiamestre
DANIEL Pereira de Matos e a Barquinha. Santo Daime - A Doutrina da Floresta. Disponível em: https://www.santodaime.org/site/religiao-da-floresta/discipulos/daniel-pereira-de-matos
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A ayahuasca não é uma panaceia, não é uma cura mágica, não é infalível nem um atalho no difícil processo de crescimento pessoal.
É mais útil entendê-la como uma lanterna capaz de iluminar partes pouco claras da vida.
E essa lanterna é muito poderosa!